Já sabem aquela da EMEL ir disponibilizar bicicletas para os seus clientes de avença poderem alugar? Não, ainda não está no site deles, têm mesmo que se basear nos press releases…
À partida parece uma iniciativa em prol da mobilidade sustentável, incentivar as pessoas a deixar o carro no parque e a pedalar o resto do caminho, muito pró-bicicleta, modernista e tal.
Mas depois de pensar um bocadinho, a tentar analisar a lógica (ou falta dela) do “incentivo”, apercebi-me de que estava a analisar a coisa errada, no fundo.
A EMEL é a “Empresa Pública Municipal de Estacionamento de Lisboa”, notem que é de “estacionamento” e não de “estacionamento automóvel”. Aliás, essa abrangência está patente na missão da empresa:
(…)tem como objecto a gestão da concessão do estacionamento público no Município de Lisboa, estacionamento esse integrado no sistema global de mobilidade e acessibilidades definidos pela Câmara Municipal de Lisboa.
A construção, gestão, exploração e manutenção de locais de estacionamento público, bem como a elaboração e promoção de estudos e projectos de parques de estacionamento, mobilidade e acessibilidade urbana são algumas das principais áreas de que a EMEL se tem ocupado para melhorar a qualidade de vida dos Lisboetas.
E também na declaração do “responsável dos novos produtos”:
O “B’ina” cumpre um dos objectivos estratégicos da empresa: «proporcionar um conjunto de medidas, acções e produtos condizentes com a mobilidade sustentável, que ajudem a melhorar a qualidade do ambiente e a diminuir a circulação automóvel em Lisboa», explica Sérgio Azevedo.
E eu pergunto: onde estão os lugares para bicicletas nos parques de estacionamento da EMEL?
Enquanto não temos “bike stations”, estes parques são o que de mais parecido poderíamos ter. Bastava abdicar de 1 lugar de automóvel para poder acomodar 10 a 20 bicicletas (há sistemas de parqueamento de 2 andares). Para estacionamento de longa duração (tipo, para quem vai de bicicleta para o trabalho ou para a escola), a possibilidade de ter a bicicleta num sítio coberto, de acesso limitado, vigiado, com um suporte adequado, etc, é um incentivo importante. Mesmo que fosse pago (que acho que não deveria ser até cada parque exceder as 40 bicicletas de procura), o valor justo seria baixo o suficiente para não ser um desincentivo (1/10 a 1/20 do preço por automóvel, ou menos, dado que as bicicletas não degradam as instalações como os carros).
Uma pessoa é forçada a concluir que ou a EMEL resolveu fazer um pouco de greenwashing automóvel mandando uns press releases a agitar umas bicicletas no ar, ou são bem intencionados mas completamente clueless, coitados (e não é por nunca ninguém lhes ter dado mais ideias)…