Amanhã há Cicloficina no Largo Camões, em Lisboa

Pelo menos é o previsto! 🙂

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“Substance dualism” e religião

O Bruno encontrou estes vídeos. São interessantes:

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Bicicooltura em Porto Salvo!

Não percam o ciclo-evento do ano em Porto Salvo, o Café Vélo!! 😀 Este Sábado, das 15h às 20h, na Doce Lima.

Café Vélo by Cenas a Pedal

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A solução nunca pode ser mudar de sistema…

… apenas se pode mudar o sistema.

So true

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Analisar ciclovias

Em Maio eu e o Bruno fizémo-nos à estrada, em bicicleta, daqui de Porto Salvo até Lisboa, para irmos conhecer algumas ciclovias que estavam a ser finalizadas ou estavam já concluídas. E gravámos vários troços da viagem, incluindo um comparativo ciclovia vs. estrada no troço Monsanto-Campolide. Claro que, para não variar, esses vídeos ficaram em águas de bacalhau porque não temos tempo para os editar e transformar em algo útil. Ou mesmo que simplesmente giro. 🙂

Há cerca de uma semana fui repescá-lo, o Bruno editou-o e publicou-o no YouTube, para servir de case study numa discussão sobre ciclovias na mailing-list da MUBi. Como a conversa morreu após o meu último (e mais gráfico) e-mail, resolvi não o deixar enterrado, talvez assim encontre terrenos mais férteis de discussão e debate…

Experiência tosca (única e não-científica) de avaliação comparativa da ciclovia Monsanto-Campolide:

De todo o percurso patente no vídeo, foquemo-nos na rotunda:

rotundacampolide2

Um ponto de conflito é um ponto onde diferentes fluxos de tráfego se cruzam, logo, que introduzem obstáculos no percurso, diminuindo a velocidade média da viagem, e são um foco potencial de acidentes.

Os pontos vermelhos e azuis escuros são pontos de conflito muito óbvios e localizados, e onde o ciclista é que tem que ceder passagem. De notar que o 4º ponto azul, dentro da rotunda, é um potencial ponto de conflito um pouco mais difuso (quem entra na rotunda tem que ceder passagem ao ciclista, mas uma vez dentro da rotunda o ciclista tem que ceder passagem ao mudar da via da esquerda para a da direita, para sair da rotunda).

Os pontos rosa são pontos de conflito envolvendo peões, e onde o ciclista deve ceder passagem aos peões (passadeira e passeio).

Quanto à escolha do traçado na rotunda, acho esta imagem interessante, mas claro que discutir isto sem a participação de quem desenhou e de quem implementou as coisas é sempre pobre. Há condicionantes e opções que tiveram que ser tomadas e que ajudarão a explicar e/ou justificar algumas coisas e que nós desconhecemos.

Voltando ao percurso completo, façamos a comparação para a ligação dos mesmos 2 pontos. Volto a enfatizar que não, isto não pretendeu ser uma experiência científica, é apenas um teste tosco. Mas acho que dá para ilustrar pontos importantes.

CICLOVIA vs. ESTRADA:

  • Tempo: ~3 min vs. ~2 min
  • Distância: não medimos, mas o percurso pela ciclovia é cerca de 100 metros mais longo
  • Pontos de conflito: 10+3 vs. 8+2

Ou seja, imaginem que querem usar a bicicleta para ir para o trabalho, ou outro sítio num contexto em que a velocidade é mais importante do que a fruição da experiência da viagem em si. Usando estes valores poderíamos ter algo como 30 minutos pela ciclovia e 20 minutos pela estrada. O que significa que, optando pela ciclovia, a pessoa gasta MAIS tempo na viagem para supostamente circular em maior segurança mas na realidade está MAIS exposta ao risco de acidentes do que se fosse na estrada. De notar que uma ciclovia no passeio aumenta ainda o risco a que os peões estão expostos ao circular no mesmo.

Contudo o que muita gente defende é que não interessa se estamos a colocar as pessoas numa situação efectivamente MAIS perigosa desde que elas se sintam mais seguras. Ou seja, acham bem criar uma espécie de ratoeiras para ciclistas (aumentando a segurança subjectiva enquanto diminuem a segurança objectiva).

Não se esqueçam que as ciclovias são (ou poderão ser) criadas com (entre outras) a intenção de atrair ciclistas de qualquer nível de aptidão. A ideia é baixar o nível de exigência nas competências do ciclista para ele poder navegar na cidade e assim usar a bicicleta quando antes não o faria porque se sentiria mal preparado ou vulnerável para navegar na rede viária normal. O problema, grave, é que a navegação nas ciclovias exige MAIS aptidão, e não menos, porque estas tornam o sistema viário mais complexo, e multiplicam os pontos a que os condutores (de bicicletas e de automóveis) e os peões têm que prestar atenção, o que multiplica as oportunidades para as coisas correrem mal.

E a pergunta que interessa aqui é: “o que é que eu faria diferente?“. Pelo menos para que fosse possível continuar a incentivar pessoas sem formação e/ou sem capacidade para usarem a rede viária normal a optarem pela bicicleta.

Há pelo menos duas coisas fundamentais que me ocorrem agora:

    1) reduzir o número de pontos de conflito.

    O exemplo dado na foto do “Detesto a minha burra” faz justamente isso na rotunda.

    2) aumentar a segurança do ciclista ao passar por cada um desses pontos.

    Isto implica tratar esses cruzamentos de modo a obrigar quem circula na rede viária a ceder SEMPRE a passagem a quem circula na ciclovia (no caso português isso implica sinalização vertical dado que nem quando se apresentam pela direita os ciclistas têm prioridade na passagem pois são discriminados negativamente no Art. 32 do CE). E faria a ciclovia nivelada com a estrada, para vincar que se trata de um cruzamento de 2 vias e não um atravessamento de 1). Se calhar, para reforçar essa sinalização e proteger ainda mais o ciclista, até faria com que a ciclovia fosse sobreelevada ao longo dos cruzamentos. Isto tornaria a deslocação do ciclista confortável, facilitar-lhe ia a tarefa de ver e ser visto, e funcionaria como uma lomba de acalmia de tráfego para obrigar os condutores de automóveis a abrandar dando-lhes tempo para ver os ciclistas a aproximarem-se e para parar.

Mas este tipo de ciclovia se calhar não interessa a muita gente, porque diminuiria efectivamente a competitividade do automóvel na mesma medida em que aumentaria a da bicicleta (a sinalização só prejudicaria o fluxo automóvel quando houvesse ciclistas, pelo que se houver poucos não afecta muito, e se houver muitos, bom, também têm direito a passar a a chegar depressa onde querem; já as ciclovias sobreelevadas em lomba já prejudicam o fluxo automóvel mesmo quando não há ciclista a passar…). E esta ciclovia conseguiria fazer isto oferecendo benefícios reais ao ciclistas em termos de segurança, conforto e eficiência e não o contrário.

Será que isto não aumentaria a massa crítica de ciclistas?

Será que isto não aumentaria o shift modal do automóvel para a bicicleta (em vez de ser essencialmente dos TP e do andar a pé)?

E os custos de construir uma ciclovia assim não serão muito superiores ao de construir uma ciclovia como as que temos, presumo. Nem demoraria muito mais tempo.

Claro que os novos ciclistas atraídos para a bicicleta continuariam a não saber conduzir fora das ciclovias nas estradas e ruas não “traffic calmed“, o que numa cidade sem muito espaço nas ruas para ciclovias e sem dinheiro para luxos é um ponto relevante, parece-me.

É nossa responsabilidade enquanto ciclistas ter um olhar crítico e uma voz audível e construtiva na avaliação das infraestruturas construídas em nosso nome e supostamente para nos servir. Para isso temos que estudar, pensar, conversar, debater. Até o cérebro doer.

Agora vejam outros vídeos comentados, mas da Holanda.

Este post não é sobre as ciclovias de Lisboa, é sobre as ciclovias de Portugal, apenas escolhi este exemplo porque era aquele para o qual até tinha um vídeo. Mas os resultados não seriam muito diferentes se isto fosse replicado a outras ciclovias por aí.

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