Aqui há tempos vi este filme, “In time“:
A expressão “tempo é dinheiro” ganha aqui outra percepção. Tempo é dinheiro, e dinheiro é tempo.
Neste filme ficar sem dinheiro é ficar sem tempo é morrer. É um pouco mais súbito do que na vida real, mas é muito próximo. Presumo que deva ser esta a experiência quotidiana da maior parte das pessoas no mundo: todos os dias trabalham para tentar ter dinheiro (= comida, roupa, assistência médica) para viver mais um dia. E quem sabe, se tiverem sorte, um extra mais para 1) melhorarem a sua experiência da vida (lazer, conforto, segurança) e/ou 2) melhorarem as suas hipóteses de amanhã conseguirem fazer mais dinheiro (investindo em educação, por exemplo), passando a conseguir viver uma semana, um mês, etc, de cada vez, e não um dia de cada vez… Depois haverão muitas que todos os dias receberão mais ‘tempo’ do que aquele que podem gastar.
Este filme retrata bem a nossa sociedade, a forma como os pobres são eternamente mantidos pobres pelos ricos que dominam o sistema e que vão ficando cada vez mais ricos, à custa do que os pobres produzem e consomem (pensem, a Inditex é o que é graças a quem compra roupa barata, a McDonalds é o que é graças a quem compra comida barata). A classe média, principalmente a remediada, é o enabler do sistema que a oprime.
Isto liga com esta talk que a TED censurou.
In a capitalist economy, the true job creators are consumers, the middle class. And taxing the rich to make investments that grow the middle class, is the single smartest thing we can do for the middle class, the poor and the rich.
Claro que, se a classe média e os pobres são esmagados, ninguém consome, logo ninguém contrata, e todos despedem se puderem, ou fecham, mais tarde ou mais cedo. E como a classe média e baixa são os que pagam mais (e mais) impostos, também a receita fiscal do Estado se reduz e, logo, as poucas redes de segurança, dignidade e justiça são enfraquecidas ou eliminadas (SNS, educação, justiça, SS)…
Daqui se deduz que decidir o que comprar e onde comprar são das decisões políticas quotidianas de cada um mais importantes. Eu vou fortalecer e fazer crescer aquilo de que aumento a procura, e vou enfraquecer e matar aquilo que não procuro. Isto é válido em transacções pessoais, locais, nacionais ou internacionais, determinando o futuro dos profissionais, dos pequenos negócios de bairro, passando pelas empresas locais e nacionais, até aos países.
O problema é que quando não se tem dinheiro não se tem muita escolha, e passa a contar apenas o preço. E quando se decide baseado no preço e não no valor, mais tarde ou mais cedo acabamos reféns de alguma grande corporação e/ou de um país.
Sinceramente estou farta da crise. Do medo, da incerteza, do desespero, da depressão, da ausência de esperança, da pressão esmagadora de tentar sobreviver ao ritmo de um dia de cada vez, esperando pelo menos não adoecer nem ter um acidente, que despoletariam a queda no precipício. Os que têm pouco dinheiro costumam ter mais tempo, e os que têm muito dinheiro costumam ter pouco tempo (mas ao menos têm dinheiro para o gozarem à vontade). E depois há os outros desgraçados que nem dinheiro nem tempo.
Eu, que sempre me considerei consideravelmente avessa ao risco (risco físico, risco emocional, risco financeiro), vejo-me a ter de o gerir e internalizar diariamente, e às vezes a sonhar acordada, “que bom seria ser como os outros, ter um emprego, um salário fixo com que posso contar, alguém a dizer-me o que fazer, como e quando, horas para entrar e para sair, dias de folga, férias, alguma segurança, um pouco menos de stress”. Depois leio ou oiço mais umas histórias, e penso, mas qual segurança? Nada é garantido. Os nossos direitos, quando os temos, não são absolutos nem intocáveis, são-nos reconhecidos e atribuídos por outros, que podem mudar de ideias. E quando não se tem dinheiro e não se tem tempo, ficamos socialmente excluídos, e não nos envolvemos politicamente, não exercemos os nossos direitos e deveres de cidadania, o que só leva a que acabemos governados por gente sem valores e sem valor, e com um preço. Como sair deste ciclo?…
Tb vi o filme e nao achei grande coisa,mas a msg é bastante forte.Penso bastantes vezes no que falas no texto, sobre como alguns ricos abusam das pessoas e como nos contribuimos no nosso dia-dia.A unica maneira que eu arranjei para lutar um pouco contra este sistema é no meu dia-dia tentar dar o melhor uso ao dinheiro: raramento faço compras de alimentaçao e coisas para casa em grandes superficies,compro na rua ou nos supermecados biologicos,ando pouco de carro,uso transportes ou a bicicleta,tento ter atençao aonde compro a minha roupa,embora seja dificil,faço sempre reciclagem..etc.. Penso que nao é por as pessoas terem pouco dinheiro, mas usa lo bem..em vez de andarem de carro de um lado para o outro e a comprar carros novos para mostrar aos vizinhos.
Cumprimentos