Porque é que a mulher de um presidente da república é automaticamente nomeada “primeira-dama”, passando a fazer parte do Governo, dando a cara, ocupando-se de campanhas e obras humanitárias e de beneficiência? O povo elege o marido, não a mulher. E ela não tem profissão e vida própria? Porque tem que passar a desempenhar aquele papel? Será que nos (poucos) países com mulheres à frente da nação os maridos passam a acompanhá-la nos eventos de Estado? Passam a fazer de Lady Di versão masculina?
Há o ‘esposo’ e ‘esposa’ e depois há o ‘marido’ e ‘mulher’. A primeira designação parece muito pomposa. Geralmente usa-se a segunda. Mas eu acho-a um bocado “degradante” para a mulher. Não há um equivalente feminino de ‘marido’? Só as classes sociais mais baixas (e rurais?) costumam referir-se ao marido como “o meu homem”, ou “o teu homem”. ‘Marido’ soa mais a uma categoria de status. ‘Mulher’ é só a designação de alguém do sexo feminino. Em inglês há o ‘husband’ e ‘wife’, não é ‘husband’ e ‘woman’. Cá é como se houvesse o homem, e depois ele tem uma série de acessórios: a casa, o emprego, o carro, o cão, o gato, e a mulher. Tem “uma mulher”. Como quem tinha um escravo, ou como quem tem qualquer outro “objecto”. Are you following me on this? Mais uma razão para não me casar e poder referir-me ao Bruno como o meu namorado até já não ter dentes nem me lembrar que ele se chama Bruno. 😛 Além disso, tem uma sonoridade muito mais doce que qualquer outra que se use vulgarmente (marido, namorado, companheiro, parceiro, esposo,…), porque tem lá metido no meio a palavra ‘amor’. 🙂
Estou farta farta de ver anúncios a detergentes em que só aparecem mulheres, e que passam esta imagem estúpida de que só as mulheres lidam com roupa suja, só elas tomam decisões sobre detergentes, e como se a escolha de um detergente fosse uma questão fulcral na vida daquelas mulheres. Nota-se pelo ar de especialista que apresentam. Não há homens a viver sozinhos? Os homens não lavam roupa? Os homens não vivem na mesma casa e não fazem compras com as suas mulheres? Se as relações de poder de educação e de rendimento já estão alteradas porque se continua a publicitar os produtos baratos e de âmbito doméstico para um target group exclusivamente feminino e os produtos de luxo, lazer e status, para o masculino? Às vezes apetece-me vomitar nos intervalos publicitários televisivos… E os anúncios a telemóveis e a cenas tipo o GE Money? Over and over and over again! Repetem os mesmos anúncios 500 vezes num único ‘intervalo’. Não basta a monstruosa carga publicitária na televisão (e a começar no cinema!) ainda por cima são sempre os mesmos, apelando essencialmente ao sexismo e ao consumo inconsequente. A repetição deve ser pelo “água mole em pedra dura,…”….
Porque surgiu esta clivagem de designações estúpida na questão do aborto? “Pro-choice” e “pro-life”. Os pró-escolha também são pró-vida! Duh! Ou a maneira como os jornais falam do aborto cá em Portugal, qualquer coisa blá blá, “em defesa do aborto”. Dumb fucks! Ninguém ‘defende’ o aborto. Ninguém gosta da ideia de aborto, muito menos de ter que fazer um. O que se defende é o direito a optar por fazer um. É completamente diferente! Este tipo de escolha de palavras faz parecer que quem defende o direito à escolha gosta de sangue, morte, dor, e quer ver a humanidade extinguir-se porque não ser pró-vida significa ser pró-morte ou pró-não-ter-filhos-at–all.
A polémica não é “pessoas contra o aborto” vs. “pessoas a favor do aborto”, porque não há ninguém que seja a favor do aborto. O mesmo acontece com a eutanásia ou com a morte assistida ou com a morte por suspensão de tratamento médico. A questão é quem acha que em última instância cada indivíduo é responsável por si próprio e tem direito a si próprio. Ter direito a si próprio significa ninguém poder overrule as suas decisões que afectam exclusivamente a sua vida e o seu corpo. Significa ninguém me poder obrigar a morrer se eu não quiser, nem obrigar-me a viver se eu não quiser. Significa não poderem negar-me tratamentos médicos se eu tiver direito a eles, nem imporem-me terapias, tratamentos, medicamentos, transplantes ou transfusões contra a minha vontade. Isto deverá excluir crianças, pelo menos sempre que as decisões provenham de crenças e imposições dos pais (recusa dos Jeovás de permitirem transfusões sanguíneas aos filhos, preferindo deixá-los morrer, por exemplo). Significa também eu poder escolher como me sustento, para quem trabalho, e a fazer o quê = ter direito a não ser escravizada e usurpada da minha livre-vontade e arbítrio.
Também não percebo porque é que o Governo pergunta a opinião ao povo nalgumas questões mas noutras não. Não tenho voto na matéria quando se trata da minha reforma, mas tenho voto na matéria na reprodução dos outros…
Eu sou fervorosamente pela defesa do direito a si próprio. Mas não sei se seria capaz de abortar uma gravidez. Nem sei se teria força para deixar morrer alguém que amo. Mas não acho sequer remotamente justo alguém ir para a prisão ou ser socialmente ostracizado por exercer o seu direito à escolha e a viver a vida (ou deixá-la cessar) como entender melhor .
Estes idiotas que ocupam a vida a meter-se na vida dos outros e a tentar impôr-lhes as suas opiniões, preferências e comportamentos should get a fucking life! E o mais inacreditável disto é que eles são muitas vezes os primeiros a fazer o contrário daquilo que andam a pregar (afinal descobre-se que são gays, ou adúlteros, ou criminosos, ou viciados em pr0n, ou child molesters, ou alcóolicos, ou junkies, you name it).
Realmente, se há coisa que não suporto is nosy dumb people.
P.S.: De uma vez por todas, reivindicar o direito ao espaço público livre de fumo do tabaco NÃO é metermo-nos na vida dos outros (nomeadamente dos fumadores), nem impôr-lhes comportamentos. Isso aconteceria se se proibisse o consumo de tabaco nos espaços privados, se se proibisse o consumo de tabaco como se faz com outro tipo de drogas. O que se faz é impedi-los a eles de impôr o seu fumo aos outros.
Olá.
Há de facto equivalente a uma Primeira Dama no caso de uma mulher Presidente (ou Presidenta???) da República, que se designa oficialmente por Primeiro Cavalheiro (First Gentleman ou First Man). Pelo menos tanto quanto sei.
Creio que acaba por ser ou – como a 1ª Dama – oficialmente nada, logo não ganha nada como tal (pelo – 2º a Wikipedia), mas com um papel político simbólico assinalável.
Creio que quer a 1ª Dama quer o 1º Cavalheiro não têm nenhuma obrigação formal de se dedicar a coisas humanitárias ou outras do Estado, e podem continuar com as antigas profissões se assim quiserem.
Concordo contigo quanto ao “sexismo” do que dizes da língua portuguesa. Mas acho que isso está muito inerente. Por ex., ao contrário do Inglês, quase todas as palavras têm um género masculino ou feminino (não existindo género equivalente ao “it”). E o plural é automaticamente masculino se houver um elemento masculino no meio, mesmo que se esteja a falar, por ex., de 1 homem no meio de 1000 mulheres. Tal como os “Direitos do Homem”. Mas acho que isso é uma característica de todas as línguas latinas, não só da portuguesa.