Violência doméstica

Ontem cerca das 01h30 da manhã ouvi um carro a passar aqui pela rua, travar e dar meia-volta. Depois comeceu a ouvir pessoas. Alguns minutos depois apercebi-me que era uma discussão. Fui espreitar à janela o que se passava. Um carro tinha estacionado mesmo aqui ao pé, e vi um rapaz a tentar puxar alguém à força para fora do carro. Pensei que era uma rixa qualquer entre amigos, conhecidos, dealers, sei lá. Já estava a pensar chamar a polícia. Já estou habituada. Tenho-o feito imensas vezes (para a polícia e para os bombeiros) para reportar incêndios (muitos de fogo-posto) aqui por trás em terrenos com barracas e nos campos (alguns bastante grandes!), acidentes rodoviários e rixas decorrentes, carros roubados e abandonados aqui mesmo à nossa porta (putos que os roubam para vir pra casa e depois os deixam um bocado mais longe e vão o resto a pé aqui para o Bairro Social ao pé). Houve uma vez um gajo bêbedo que quase ia entrando com o carro dentro do nosso quintal em manobras e mais manobras. Durante uns tempos havia bandos de miúdos do Bairro que nos azucrinavam o juízo cada vez que passavam por aqui, roubando fruta (mesmo verde, estragando-a), atirando essa mesma fruta e caroços às janelas, atirando pedras, etc, etc. Felizmente essa fase já passou e tudo está mais calmo, civilizado, normal. 🙂 Mas foram tempos angustiantes…

Adiante, apercebi-me que era um casal, o rapaz puxou a rapariga pra fora do carro e começaram à porrada, ela partia pra cima dele aos socos e estaladas mas ele também não se limitava apenas a defender-se. Estava mesmo pra ir chamar a polícia. Depois pararam, ele abraçava-a tipo para a segurar e acalmar. Andaram ali a rebolar um pouco pelo carro e chão, mas lá amainaram. Acabei por não chamar a polícia. Depois fiquei a pensar se não o deveria ter feito de qualquer forma…

Foi a segunda vez a que assisti a uma cena destas. A primeira foi mais violenta, uma rapariga histérica e fora-de-controlo a gritar e a chorar e a bater num rapaz, até atirava pedras da calçada ao gajo! À segunda ou terceira vez ele deixou a pose de ouvir e calar e simplesmente aparar os golpes e deu-lhe uns sopapos. A rapariga estava acompanhada por uma ou duas amigas. O rapaz não me lembro. Fiquei chocada com aquilo e a pensar o que terá o rapaz feito para ela reagir assim… O mesmo com o casal de ontem. Este era um rapaz branco e uma rapariga preta, no outro casal eram ambos pretos. Pré-conceitos à parte, pelos locais onde isto aconteceu e dada a sócio-geografia desta zona, e uma vez que foram os únicos casos que testemunhei, será uma questão cultural, será uma questão sócio-económica? Há violência doméstica em todos os estratos sociais, a diferença é que quanto mais altos mais discretos.

Fiquei novamente a pensar, como é que há pessoas que se relacionam assim?!
Como é que casais que supostamente se amam andam à porrada? Pior, como é que algo acontece que despolete uma reacção e uma discussão/briga deste calibre e depois acabam abraçando-se?! Será esta a cultura conjugal destas pessoas? Será que estas relações continuam assim? Será que as crianças destes casais presenciarão e sentirão estas agressões entre pai e mãe?

Não consigo conceber um relacionamento em que haja espaço para cenas e atitudes destas. Só posso sentir pena destas pessoas por nunca saberem se o próximo gesto do(a) companheiro(a) será de carinho ou de agressão… 🙁

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