Enquanto os ciclistas (principalmente os que se interessam pouco por andar de bicicleta) clamam pela segregação pensando que é o melhor para a sua segurança e conforto, os peões já perceberam há muito que a sua segregação na via pública só os deslegitimou e secundarizou face aos outros utentes do mesmo, prejudicando a eficiência, conforto e segurança das suas deslocações e da sua vivência do espaço público. E por isso a tendência é desfazer a tradição segregacionista imposta pelo lobby automóvel, e surgem então as zonas 30, os shared spaces, as woonerf, a pedonalização de ruas e praças, etc.
Partilho aqui um vídeo que acho bastante elucidativo das soluções que deveríamos estar a adoptar, que é, dentro das zonas urbanas, segregar os elementos mais ineficientes, perigosos, poluentes e fúteis: os automóveis particulares, e não o contrário como até aqui, com a segregação dos peões e ciclistas, os mais eficientes em termos de ocupação de espaço público e consumo de energia, mais seguros e com tantas externalidades positivas.
Segrega-se sempre o que é visto ou sentido como mau, inferior, feio, trabalhoso, inválido, inconveniente, etc, etc, para deixar o espaço e os recursos livres para o resto, e não o contrário. Neste momento, os peões, os utilizadores de transportes públicos e os ciclistas são na via pública o que as mulheres, os pretos, os deficientes, etc, etc, foram e/ou são noutros sistemas. Alguém ainda tem a ilusão de que “separados mas iguais” foi alguma vez sinónimo de equidade…?
Gostei do tom!
Gostei da indignação!
Acho que estamos todos a ficar fartos desta coisa mole, escorregadia, sem gosto definido, que são as ciclovias de Lisboa, que é a política da bicicleta em Lisboa.
É ultrajante a forma com o espaço público é tratado na capital. E arredores, já agora.
Veja-se a precariedade instalada na avenida 24 de Julho, por exemplo.
Ou percebi mal?
A que se refere, exactamente, na 24 de Julho, Humberto?
À alteração das faixas de rodagem.
À criação de mais estacionamento entre o corredor central e as faixas BUS, sem regular o que já existia nem fiscalizar nenhum.
À falta de passadeiras onde as pessoas realmente atravessam.
À confusão que é atravessar a avenida em frente à gare da linha de Cascais.
Aos pinos e divisórias com ar de provisório.
Ao estado do piso.
Sim, concordo consigo. A via transformada em estacionamento teve, contudo, um efeito positivo a nível da velocidade dos automóveis nas outras duas vias, penso. Mas tal podia ter sido conseguido sem transformar aquilo em estacionamento. Mas é uma opção muito mais barata que, por exemplo, transformar aquela via num bonito canteiro longo e contínuo. MAs nem acho que o nosso problema seja falta de dinheiro, ele anda aí, só que aplicado nas coisas erradas, e de forma ineficaz e ineficiente, muitas vezes.
Eu sou 100% a favor de estacionamento para automóveis, mas não à superfície. E particularmente na 24J onde, apesar dos novos lugares, o estacionamento em segunda fila no sentido contrário é constante e anárquico!
Cheira-me que aquilo é mais uma zona que está a ser avaliada por um projecto que inclui o parque por baixo do jardim da Praça Dom Luís I… coisa para demorar aí uns três ou quatro anitos.