Lisboa e as bicicletas

Ontem lá fomos à Lisboa Bike Tour

À espera na ponte

Não posso dizer que tenha gostado muito. Achei fraco, mal organizado, desinteressante, e sem o ambiente de celebração que se esperava. Não sei o que terá pensado a maioria dos participantes, mas o entusiasmo que a iniciativa despertou foi imenso, as 4000 inscrições esgotaram em 9 dias e o meu post neste blog teve imensos hits (695 só desde o dia 4 de Setembro).
À noite vi a peça da RTP sobre o evento (eles disponibilizam os videos dos telejornais, mas há umas semanas mudaram o sistema e agora aquilo não funciona em Linux; bimbos do caraças…), mas o que se mostrou não traduz o que aconteceu para todos os participantes. Só o pessoal perto da linha de partida é que teve direito a música, animação, e sinal de partida, bem como “recepção” à chegada.

As bicicletas estavam mal montadas (as minhas, como muitas outras que vi, tinham as mudanças mal montadas, fazendo com que eu não visse nada quando as utilizava. Houve um senhor ao pé de nós a que caiu um pedal; teve sorte não ser num momento em que ele se estivesse a apoiar bem nele, podia ter-se magoado… Já para não falar na pintura riscada e nas mossas. Fartámo-nos de ver pessoal apeado com avarias ou defeitos nas bicicletas. Outros nem tiveram direito a uma (quando estávamos à espera da cena começar passaram grupos de pessoas a pé que tinham sido largadas pelos autocarros mais tarde e mais atrás na ponte e que já não encontraram bicicletas, tendo que ir andando pela ponte à procura de mais, “Lisboa Foot Tour”…). Não gosto daquele sistema de mudanças e tive dificuldades a usá-las, mas o que me lixou mais foi o selim, que era péssimo e tornou o “passeio” muito desconfortável…

Ao contrário do que anunciaram, não vimos equipas de auxílio técnico nenhumas nem antes nem durante o passeio. Vimos sim pessoas em bicicletas para assistência médica. Quem não encontrou bicicleta funcional lixou-se, e quem encontrou defeitos ou teve avarias na sua teve que se desenrascar sozinho, sem ferramentas nem nada. Se todos pagaram o mesmo e se chegaram lá até à hora estipulada, todos teriam direito a uma bicicleta em condições, ou assistência para rectificar as faltas e corrigir os problemas. Isso não aconteceu. Com patrocinadores de tão alto gabarito esperava-se mais.

A mochila que eles ofereceram também era uma chinesice qualquer. A minha tinha defeitos (faltavam presilhas), a do Bruno partiu-se quando ele puxou uma presilha.

Tirei meia-dúzia de fotos (ver aqui) e uns videos (brevemente disponíveis aqui). O Bruno lembrou-se e levou de casa uns papéis de “activismo político” que colocou no lugar das bandeirinhas dos patrocinadores. 😉

Alerta pol�tico

Acho que ninguém reparou, além de um casal que se aproximou pra ler a nos apoiou. A maior parte das pessoas ali nem em lazer costuma andar de bicicleta, concerteza, pois nem sabem circular como deve ser…
O passeio em si não foi o que eu esperava. O piso era fixe e a dificuldade do percurso foi canja (fiquei abismada quando vi pessoas na TV a queixarem-se que aquilo tinha sido “puxado”, além de ouvir os lamentos de terceiros ao longo do passeio, e pessoas a levar a bicicleta pela mão, diz muito acerca da forma física dos portugueses…). Mas a vista da ponte não era nada de especial, é mais bonita a do lado Sul do rio, a do lado Norte é feia. Então a parte já em terra, em que andámos ali às voltinhas até chegar ao Parque das Nações foi a pior. Paisagem seca, árida, cheia de lixo, prédios feios, alcatrão.

Depois chegamos ao Parque das Nações, outrora um espaço privilegiado de Lisboa, agora cada vez mais abandonado e progressivamente menos pedonal, menos silencioso, respirável e espaçoso, visto abrirem mais vias ao trânsito a cada dia. Daqui a nada é mais outro espaço típico de Lisboa, em que só se ouve, respira e vê carros por todo o lado, a circular e estacionados selvaticamente por todo o lado. No entanto, não se vêm autocarros nem outro transporte público a circular pelas vias agora abertas ao trânsito automóvel… Um eléctrico/metro de superfície (“tram”) era fixe…

Smart estacionado

[Fixe com um Smart. 🙂 ]

Carro estacionado

[Doesn’t quite work for this one, tough. E bimbos destes há praí aos pontapés…]

Este evento deveria ter sido aberto a mais gente, e para cada um levar a sua bicicleta própria. E devia ter começado do outro lado da ponte, para a podermos (todos) percorrer integralmente. Devia ser manifestação de uma preocupação e de uma tendência mais séria na direcção da promoção da bicicleta como meio de transporte privilegiado e instrumento de lazer universal. Mas não, foi apenas areia para os olhos, umas migalhas. O facto de Lisboa não aparecer na lista das cidades europeias que participam na Semana Europeia da Mobilidade e/ou no Dia Europeu Sem Carros confirma o desinteresse (embora baste tentar circular por Lisboa de outra forma que não dentro de um automóvel, nomeadamente a pé, de bicicleta ou com uma cadeira de rodas/carrinho de bebé/outro-qualquer-extra-com-rodas para sentir na pele a negligência).

Oeiras volta a participar em 2006. O programa tem algumas coisas “palpáveis” interessantes. Para além de podermos passear pela Marginal Sem Carros no dia 17 de manhã (não quero faltar!!), há umas iniciativas interessantes com a CP relativamente ao transporte das bicicletas nos comboios e à eliminição de barreiras arquitectónicas. Espreitem o programa aqui.

Também o GEOTA e a FPCUB organizam passeios neste dia.

P.S.: No Parque das Nações reparámos numa espécie de quiosque de internet… O Raspanêt, permite navegar na rua.

Quiosque Raspanêt - frente

Só achámos estranho não estar nada identificado nem bem assinalado para a função que desempenha, e o facto de não funcionar com moedas. Temos que ir comprar um papel com o código de acesso a um sítio que não pareceu estar indicado em lado nenhum… A nós pareceu-nos uma cena um bocado imbecil… Já estou a imaginar a utilidade que aquilo tem para os turistas (sim, porque um não-turista não vai para o meio da rua, sujeito ao clima e sem se poder sentar, ver os mails ou conversar no messenger…) … Enfim.

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