Eu não devia saber mais que um profissional disto, certo? Ou melhor, um profissional não devia saber menos que eu, que estudo isto por gosto e interesse não remunerados e perco um tempo estúpido com estas cenas quando devia estar a trabalhar. É que em mim só acredita quem quer, mas quando se é uma autoridade no assunto o efeito do que se diz é diferente…
[Via]
Ficamos logo a pensar que o uso de capacete é obrigatório, e ficamos sem saber que os reflectores, além das luzes, também são obrigatórios. Ficamos também a pensar que é obrigatório, nas bicicletas, ter as luzes instaladas sempre, mesmo quando a sua utilização não é exigida por lei (ex.: quando circulamos de dia e com bom tempo). Parece que os peões (aqui referem-se mais ao peregrinos, parece) também devem usar coletes reflectores e luzes.
Depois há os belos exemplos dos ciclistas a circular rente ao lancil do passeio, na “door zone“, a facilitarem “right hooks” no entroncamento à direita, etc. A sinalizarem sem olharem antes (ou seja, a sinalizar para o boneco), a manterem o sinal enquanto se aproximam, numa descida, de um entroncamento à esquerda (fragilizando o seu controlo da bicicleta no processo, quando os motoristas atrás já foram informados da viragem).
Mas nem tudo é mau. As outras informações foram bem dadas.
Na página 65, Edição 74 da Transportes em Revista temos, cortesia da Coordenadora de Estudos do Centro de Estudos de Arquitectura Paisagista, Manuela Magalhães:
Há uma falha enorme, há elementos que faltam a todos os níveis na legislação, desde aquele que considere a bicicleta como um veículo, coisa que neste momento não existe para nós. Isto a um nível geral, para que depois sendo a bicicleta um veículo passe a ter normas de utilização e de utilização na relação com os outros veículos.
Fantástico. Pessoas que desconhecem totalmente o enquadramento legal da utilização e condução de um veículo são responsáveis, em Portugal, por desenvolver vias de circulação para os mesmos.
Artigo 112.º do Código da Estrada – Velocípedes
1 — Velocípede é o veículo com duas ou mais rodas accionado pelo esforço do próprio condutor por meio de pedais ou dispositivos análogos.
Cortesia de Tiago Paulino, Eng. Mecânico do Instituto Superior Técnico, que “estuda os acidentes com veículos de 2 rodas”:
Recolhi os dados de 2005 e concluí que, nos 1271 acidentes com condutores de velocípedes nesse ano, apenas 9 ciclistas usavam capacete e nenhum desses morreu. A utilização ou não deste dispositivo de segurança previne lesões graves e pode significar a diferença entre sobreviver ou morrer.
É a chamada lógica da batata. Gosto particularmente da confiança com que ele diz que o capacete “previne lesões graves e pode significar a diferença entre a vida e a morte”. Deve ter escondidos na gaveta uns estudos que podem revolucionar toda esta polémica.
Cortesia de João Dias, investigador do Instituto Superior Técnico, “especialista em segurança rodoviária”:
A bicicleta perde a prioridade nas rotundas, entroncamentos e cruzamentos, ao contrário das motas.
Esta afirmação induz os leitores num erro gravíssimo. A perda de prioridade dentro das rotundas foi algo rectificado nas alterações ao CE em 2005… E os ciclistas só perdem a prioridade que lhes seria reconhecida pela lei geral do “quem se apresenta pela direita passa primeiro” em cruzamentos e entroncamentos não sinalizados (que são relativamente raros em meios urbanos). Uma nuance importante aqui são os acidentes por “left cross”, em que o ciclista segue em frente e um veículo em sentido contrário se atravessa à sua frente para virar num entroncamento à sua esquerda, situação em que o ciclista perde efectivamente a prioridade (o que não aconteceria se fosse um veículo motorizado – discriminação negativa).
O capacete é muito importante para evitar lesões graves. Das vítimas mortais de 2006, só 15 % usavam capacete na altura do acidente.
Partilha da opinião do Tiago Paulino, pelos vistos. Reconhece poderes miraculosos aos capacetes (que nem os seus fabricantes reconhecem).
Enfim, e assim seguimos alegres e contentes…
Boa noite,
Tenho algumas dúvidas que agradecia que me pudesse ajudar a esclarecer. Desde já obrigado.
1.Imaginemos uma situação em que o condutor de um veículo a motor quer fazer uma mudança de direcção à esquerda. Em sentido oposto encontra um velocípede que pretende seguir em frente (“left-cross” penso eu). Imaginemos também que o cruzamento tem semáforos e que fica verde para ambos ao mesmo tempo. Quem tem prioridade?
Por um lado parece ser uma situação típica de “left-cross” em que o velocípede sofre da discriminação negativa. Por outro, também está algures no CE, que os sinais de transito luminosos estão hierarquicamente acima das regras genéricas.
2.Na situação em que é passível o “right-hook” o veículo a motor tem prioridade?
Pela regra da prioridade, parece-me que o veículo a motor tem de facto prioridade mas acho que o CE também diz que é proibido ultrapassar em cruzamentos e entroncamentos.
Cumprimentos
Olá Tiago,
1. É o ciclista que tem que ceder passagem ao motorizado que pretende virar à esquerda, sim. É a tal situação de acidentes por “left cross”. A hierarquia dos sinais serve para conseguirmos navegar quando há tipos de sinalização que se contradizem ou que são incompatíveis. No cenário que aponta, a viragem à esquerda e, logo a aplicação da lei geral da cedência de passagem, é subsequente à sinalização semafórica, pelo que não entram em conflito. De outro modo, a própria semaforização direccionaria os vários fluxos de trânsito de modo a não haver conflitos deste tipo.
2. Os right hooks são o resultado de ultrapassagens ilegais, como bem referiu.
Cumprimentos,
Fiquei parvo com o vídeo. A parte das bicicletas e também a dos peões. Então há melhores sítios para estar a conversar do que ao pé de uma passadeira, não vá o sr. condutor abrandar para ver se os peões querem ou não passar??!!