Para quem não foi ao debate

No passado dia 30 de Setembro teve lugar em Lisboa um debate com as 4 listas candidatas à Câmara Municipal de Lisboa nestas próximas eleições autárquicas, com o tema “Que lugar para o peão em Lisboa?”, organizado por elementos do Passeio Livre.

Debate "Que lugar para o peão em Lisboa?" Debate "Que lugar para o peão em Lisboa?"

Mais meia-dúzia de fotos aqui. Estavam presentes à volta de 50 pessoas.

Podem ouvir o registo áudio integral do debate aqui:

A TSF deu eco do debate, mas não captou o propósito do mesmo, mas aquilo em que ele efectivamente se transformou, como se pode concluir pelo título da notícia: “Movimento de Cidadãos organizou debate sobre problema do estacionamento em Lisboa“.

Pessoalmente, fiquei um bocado desmotivada, que lugar haverá para o peão em Lisboa, se quase não há lugar para o peão num debate sobre “o lugar do peão em Lisboa”?… O carro e as pessoas que andam de carro continuam a moldar a cidade, o peão vem em último lugar, e só se houver espaço… E ninguém tem coragem de dar um murro na mesa e fazer o que precisa de ser feito, sem medo de desagradar a todos os que se habituaram a mamar à pala e aos “direitos adquiridos” dos automobilistas. *sigh*

O debate podia ter corrido melhor, sim, podia ter sido melhor organizado, sim. Mas fez-se o que se pôde com os recursos que havia. Era mesmo importante que este debate tivesse lugar, para enfatizar que HÁ PESSOAS QUE SE INTERESSAM POR ISTO, e cada vez serão mais e mais barulhentas e mais exigentes, pelo que é melhor que os políticos, técnicos, empresários, comerciantes, e afins, se mentalizem que as coisas têm que começar a mudar.

Todas as ruas deveriam acomodar o espaço necessário à circulação fluida e confortável dos peões. Onde seja possível 2 cadeiras de rodas cruzarem-se sem problemas, tipo mínimo 2 metros de largura livre, com árvores e canteiros, iluminação, papeleiras e bancos regularmente espaçados. Este espaço de circulação livre deveria ser efectivamente livre, nada de sinais de trânsito, paragens de autocarro no meio do caminho, caixotes do lixo, carros estacionados, etc. O piso deveria ser confortável para os pés e para as rodas e anti-derrapante. Estes passeios deveriam ainda incluir sinalização de rotas, tal como há para quem se desloca de carro, uma pessoa a deslocar-se a pé deve poder saber para onde se deve dirigir para chegar (a pé) a determinado destino (estação, centro comercial, parque de estacionamento, rua A, B ou C, bairro Y ou Z, etc), e deve saber onde há a próxima casa-de-banho pública, por exemplo. Os passeios deveriam estar apenas ligeiramente desnivelados face à faixa de rodagem, para os degraus não constituírem barreiras difíceis de ultrapassar, e totalmente nivelados em todos os atravessamentos e afins. Só depois de implementadas estas vias pedonais com estas condições se veria o espaço que sobra em cada rua. E depois haveria que acautelar a passagem de transportes públicos, se possível e aplicável, depois algum estacionamento de curta duração (cargas e descargas, tomada e largada de passageiros, essencial, e vital que seja bem fiscalizado), depois vias de circulação normais, no número que fosse possível, estudado no plano geral da cidade. Actualmente é ao contrário. O peão fica com as migalhas do que sobrar do banquete dos automóveis e de quem os conduz e estaciona. Enquanto assim for, não há incentivo ao uso dos transportes públicos, bicicletas, andar a pé, que nos valha.

Dentro da cidade, as passadeiras e a semaforização deveriam servir primeiro os interesses dos peões, os atravessamentos têm que ser na menor distância possível e no período de tempo mais curto possível, os peões não devem esperar para passar, carrega no botão e fica logo verde.

Mas não, entretemo-nos a falar da EMEL, de túneis, de “incentivos”, blá blá blá. E a questão essencial, a posição dos peões e da associada liveability da cidade na hierarquia das prioridades eleitorais, continua quase na mesma, o peão é o mexilhão da cidade. Depois admirem-se que ela colapse.

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3 Responses to Para quem não foi ao debate

  1. B Aranda diz:
    Mozilla Firefox 3.0.14 Windows XP

    Se tudo correr bem, o pico do petróleo é capaz de resolver este problema à bruta 😛

  2. Mozilla 1.9.1.4pre Ubuntu Linux

    Talvez não, passamos a ter carros eléctricos. O problema mantém-se…

  3. HGG diz:
    Mozilla Firefox 3.5.3 Linux

    B Aranda tem razão! Temos de nos interrogar sobre a energia para produzir os carros eléctricos? E o EROEI das fontes de energia alternativas aos combustíveis fósseis? E… Recomendo o http://theoildrum.com

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