Lá fui eu, finalmente, a uma destas sessões (a última, pelos vistos). Estava preparada pra ficar até ao fim. Já sabia o que me esperava e tudo pois participei numa coisa semelhante mas na FCT-UNL, subordinada ao tema “Campus Sustentável“, também com o Professor João Farinha.
Assisti às apresentações iniciais. Foram analisadas as sessões anteriores e avaliada a concretização dos objectivos desde a realização do plano inicial em 2000 (?).
Falaram os Arquitectos Luís Serpa, Nuno Macara e Rita Lopes.
E dei o meu voto nas “questões mais prementes” em termos de ordenamento do território em Oeiras.
Depois houve um intervalo relâmpago para pegar num café e seguir para duas salas (dividiram as pessoas logo ao início, com uma carta na pasta de documentação, copas ou espadas). Ora, eu fui logo à casa-de-banho e depois tentei pegar num sumo e numas bolachas. Isto demorou porque havia muita gente para tão pouco espaço. Entretanto já tinham todos entrado. Mas fui na mesma. Não havia cadeiras, um senhor foi buscar uma pra ele, e eu fui também buscar a minha. Sentei-me e levantei-me e saí porque não tínhamos mesa e eu não consegui comer assim. Estavam mais 2 pessoas ao meu lado, no canto da sala, e depois veio o outro senhor. Quando acabei de comer resolvi ir-me embora. Não havia mais mesas nem lugares nas que existiam, e não queria ficar ali marginalizada, a um canto, com outros desgraçados como eu. A senhora que estava a dirigir a cena parecia um general, e ninguém se incomodou connosco. Assim resolvi desistir daquilo. Já era intimidante e constrangedor por si só, ainda mais assim. Que se lixe. Também não interessa pra nada, mesmo…
Tanta Carta, Protocolo e Tratado, tantos encontros, e continuam a fazer tudo mal ano após ano. Que me interessa os “grandes planos estratégicos” quando as coisas básicas são sistematicamente negligenciadas? Quando os postes dos sinais de trânsito, semáforos, luz e afins continuam a ser colocados no meio do caminho, no meio dos passeios? Quando ninguém vê problema nenhum em obstruir os passeios com caixas de luz e telefones, caixotes do lixo, bombas de incêndio, gradeamentos e pilaretes?
E se plantam árvores no meio, sem contar que elas crescem… (que tal duplicar a largura dos passeios nestes casos? Árvores sim mas com passeios compatíveis! Quando as paragens são colocadas de forma a impedir a circulação das pessoas no passeio? Quando para ir da Quinta da Fonte ao Oeiras Parque temos que levar o carro porque não há passeio, nem sequer berma (só uma valeta) para percorrer uma merda de uns 400 ou 500 metros? E exemplos destes não faltam por aí…
Quando as paragens de autocarros são meros pretextos para publicidade, muitas vezes só tendo os mupis e abdicando dos bancos ou paredes laterais? Quando nem isso, muitas paragens são só o poste… Várias implicam que as pessoas esperem pelos autocarros na lama, na valeta da estrada, sem sítio onde se sentar, sem abrigo do sol, calor, chuva, vento.
A maior parte são subdimensionadas para o fluxo de utilizadores.
Que interessa o palavreado bonito e para inglês ver dos arquitectos, se eu no meu dia-a-dia, continuo a ver serem feitas coisas estúpidas. Pormenores simples, básicos, e por isso fundamentais. Tratados às 3 pancadas. Fazem-se as coisas sem pensar. 50 metros de passeio aqui, outros 50 ali, mas sem interligação, sem coordenação, sem uma lógica de todo. É só para enfeitar os edifícios. A merda da obsessão com a calçada portuguesa… As estradas que se transformam em rios quando chove, dificultando a vida aos desgraçados que não têm alternativa a circular por ali, e a pé, e a empurrar mais gente para a dependência do carro para tudo, até para andar 500 metros até à padaria.
As grandes obras da treta. O SATUO, ideia boa mas de má timing de implementação, insistindo a gerência em mantê-lo a circular over and over and over again, pra trás e prá frente, sem ninguém a bordo. Coitados dos que vivem naqueles prédios. Devem dar em loucos com o barulho. Se não com o barulho com a certeza de que neste momento tal incómodo é absolutamente fútil. NÃO CIRCULA NINGUÉM NO SATUO. Just go there and watch it. O tão esperado, anunciado e necessário terminal das camionetas. Afinal foi tudo bluff. Remodelaram a estação da CP, fizeram a do SATUO, e em vez do prometido e lógico, passar o terminal das carreiras da Lisboa Transportes de em frente aos Queques da Linha para esta nova zona, não. Puseram lá uma paragem de táxis e pronto. Podiam ter feito um terminal conjunto comboios-SATUO-autocarros, que permitisse às pessoas fazerem os transbordos mais depressa e cansando-se menos (menor distância a necessitar de ser percorrida), e tudo ao abrigo do clima, mas não. Gastou-se o dinheiro e continua-se quase na mesma… Se isto não é revoltante, não sei o que seja.
Fala-se muito nas revistas e documentos da Câmara na protecção das linhas de água. No entanto em Paço d’Arcos entubou-se a ribeira, e nos últimos anos proibiram as hortas que muita gente mantinha nas margens, e agora estão a construir uma série de prédios altos e gordos… na margem da ribeira.
O novo quartel dos Bombeiros também é cá mais pra cima, em cima da ribeira. Quando houver cheias ninguém será acudido porque quem nos acode vai estar debaixo de água ou a ser arrastado por ela. Digo eu…
Gasta-se imenso dinheiro com coisas irrelevantes, ou pelo menos secundárias, como o “geiser” de Paço de Arcos ou o Parque dos Poetas. O primeiro é um total desperdício de dinheiro público e energia. O segundo é uma ideia válida mas não considero legítima a implementação. Porquê? Porque é cara. Porque usou muitas mariquices e materiais e coisas de arquitecto quando tudo o que a população precisa, antes de mais, é apenas um local verde, com relva, arbustos, árvores, para ir jogar com os putos à bola, estender-se no chão a ler um livro, passear com os bebés, fazer uma corrida ou caminhar um bocado. O Parque da Paz (muitíssimo maior), em Almada, consegue isto e não deve ter custado nada remotamente parecido ao que este custou, quer a criar quer a manter… Não tenho nada contra a cultura e a memória dos poetas, nem contra um jardim ou parque mais artístico. Mas se se gasta dinheiro e recursos numa coisa dessas antes de se assegurarem que as coisas mais básicas estão tratadas, só posso ser contra! É o mesmo que um pai e uma mãe gastarem o rendimento da família em idas ao teatro e em roupa chique prós filhos mas depois alimentarem-nos a pão e água. Há prioridades! É isto que me chateia em Portugal. Não, deixem-me corrigir. É isto que me fode. Porque não é falta de dinheiro. Não é falta de acesso às soluções, nem sequer é ignorância dos responsáveis (pelo menos eles falam bem). É a implementação. Faz-se mal quando se podia fazer bem. Aplica-se uma “nova” solução que já foi provada inútil ou contraproducente noutros lados. Desperdiça-se dinheiro em coisas fúteis e depois não sobra para as importantes. Planeia-se a cidade na secretária e não se acompanha a execução dos planos. Juro que não compreendo como podemos, como nação, ser tão estúpidos. Tão ineficientes. Falta bom senso, sentido prático, identificação das prioridades. Atenção aos pormenores e capacidade de empatia, de nos colocarmos nos sapatos dos outros.
“Falam, falam mas eu não os vejo a fazer nada”. So true. 😉
Pingback: Workshop “Livro Verde Para uma Nova Cultura de Mobilidade Urbana” at b a n a n a l o g i c
Pingback: Oeiras mais atrás at b a n a n a l o g i c