Jornadas de Ambiente Quercus ‘06: Construção Sustentável

No passado dia 7 de Abril rumámos a Fátima (eu e o Bruno) para assistir às conferências das acima referidas Jornadas. Passamos sempre por Fátima a caminho de Ourém, mas nunca tinha efectivamente parado lá. Detestei. A uma 6ªf aquilo estava praticamente deserto. Montes de restaurantes (com mau aspecto) mas sem clientes (não faço ideia como sobrevivem todo o ano apenas com o comércio nas épocas de peregrinação…), e nas ruas as montras eram todas assim:

montras

Achei este artigo particularmente sofisticado 😛 (muda a imagem conforme o ângulo de visão):

JesusMaria

Depois tudo tem nomes relacionados com o maior ganha-pão da região: as fantochadas da religião e da peregrinação. O hotel onde decorreram as conferências chamava-se Hotel de Santa Maria. Também vimos um chamado Virgem Maria. And so on.

Hotel Santa Maria

O placard de informações turísticas (?) do hotel era algo limitado. Basicamente era programações religiosas e afins. Parece que 2006 tem como lema o 6º mandamento, "guardar castidade". Good for them! Não sei porque não haverá um mandamento de "guardar jejum", ou "guardar vigília", ou guardar "prisão de ventre" e coisas assim. Quer dizer, se é para ir contras as necessidades básicas humanas há que ser coerente e não privilegiar apenas o sexo. Há que cobrir o sono, a fome, etc. 😉

mandamento

Achámos uma certa piada a este edifício:

Reparadoras

Que reparações farão elas? Televisores e vídeos ou será mais máquinas de lavar? 😛 Just kidding!

Isto da peregrinação, então, blows my mind… Gente a "matar-se" a caminhar até Fátima, depois a andar de joelhos no santuário e coisas do género por amor (?) a Deus, em troca de alguma coisas que eles pretendam (a cura de alguém, a mudança de sorte na vida,…). Pergunto eu, será que Deus não preferiria que esta gente se ajudasse umas às outras (poupando-lhe trabalho), em vez de perder o seu tempo e a sua saúde a fazer-se mártir? (Bom, ao menos dão dinheiro a ganhar ao pessoal de Fátima…) O povo gosta é de uma submissãozinha, uma subjugação, um sacrifíciozito até auto-infligido, quiçá. Se estes tóinos despendessem aquele tempo e dinheiro em trabalhos de voluntariado, será que não mereceriam mais a ajuda ou misericórdia divina? Talvez esteja enganada, talvez este deus deles seja mesmo um sádico e pronto. Encontrou um bom rebanho porque realmente somos um bocado masoquistas, nós portugueses… Bom, já me estou a dispersar. 😛

No geral, gostei de ter ido às Jornadas. Como me interesso muito pelo tema da habitação e ainda mais pelo tema da sustentabilidade (ambiental, económica, social,…) é sempre uma oportunidade de expandir os conhecimentos. 🙂

Gostei particularmente das palestras do Arquitecto Fausto Simões e da Maria João Rodrigues (a terminar um doutoramento no IST), porque tinham uma visão alargada, de conjunto e sabiam bem do que estavam a falar.

Fausto SimõesMaria João Rodrigues

Fiquei com muito má impressão da Arquitecta Fernanda Seixas. Foi muito pouco profissional e extremamente mal-educada (excedeu em 15 min os 30 previstos para a sua apresentação e ainda retorquiu "nem pense" quando recebeu uma nota a dizer-lhe que só tinha mais alguns minutos). Não gostei da vibe dela.

Não percebi muito da apresentação do Arquitecto Miguel Veríssimo, a propósito da Janela Eco-Eficiente. Ele não fez a devida introdução da ideia.

No fim foi apresentado um documentário sobre o padre Himalaia que me deixou um bocado triste. É sempre frustrante viver mais de 100 anos à frente do seu tempo… E relembra-nos o quão lenta é a evolução das pessoas, das sociedades como um todo.

Retirado daqui:

«A UTOPIA DO PADRE HIMALAYA – Em 1904, na Exposição de St Louis, EUA, o Padre Himalaya ganhou o Grand Prize com o seu invento Pyrheliophero, um aparelho revolucionário de utilização da energia solar, que nem sequer constava da representação oficial portuguesa. Assinalando o centenário, Jorge António dirigiu o documentário A Utopia do Padre Himalaya, com produção de Lx Filmes e da Radiotelevisão Portuguesa/RTP. Em causa, um tributo à vida e à obra do cientista Manuel António Gomes (1868-1933), visionário genial, entretanto esquecido, tomando por base o livro A Conspiração Solar do Padre Himalaya de Jacinto Rodrigues – que apresenta e assina o argumento, com o realizador e Luís Correia. As ilustrações alusivas (Canhão da Chuva, Ponte Sobre o Tejo) são de Filipe Abranches.»

Aqui pode ser lida uma entrevista ao Professor Jacinto Rodrigues (que apresentou o documentário, onde participa).

Deixo aqui algumas das notas avulsas que tirei durante as palestras:

  • Filipa Alves:
    • Aquecimento e arrefecimento sorvem 23 % da energia consumida numa casa;
    • Painel solar térmico tem garantia de 6 anos, um painel fotovoltaico é muito mais caro e ainda não tem uma obrigatoriedade de garantia e controlo de qualidade.
  • Carmen Lima:
    • A Lobbe trabalha na recolha, triagem e reciclagem dos resíduos das construções; a maior parte dos reencaminhamentos vai para arranjos paisagísticos por falta de homologação do material para incorporação em novas construções.
  • Manuel Inácio:
    • Só há 1 mestrado/pós-graduação em construção sustentável em Portugal (o deles, na Lusíada).
  • Maria João Rodrigues:
    • Há um concurso de design em que se procura criar edifícios integrando os painéis fotovoltaicos na arquitectura (como no Solar XXI no INETI). Site do Lisbon Ideas Challenge aqui.
    • Painéis solares fotovoltaicos:
      • podemos ser produtores ou produtores-consumidores; neste último caso temos que consumir pelo menos 50 % da energia gerada, sendo que os outros 50 % podem ser injectados na rede mas a remuneração é mais baixa do que a aplicada aos produtores;
      • segundo os fabricantes, o tempo de vida para cristalino é cerca de 20 anos e dá-se garantia de potência total até aos 10 anos;
      • quanto à reciclagem do equipamento, os cristalinos não levantam grande problema (vidro, silício, prata);
      • em Portugal, para um sistema de 5 kW o prazo de espera [o processo burocrático para poder injectar o excesso na rede, penso eu] é de 1 ano; na Alemanha é de 3 semanas…
      • para um sistema de 5 kW é necessária uma área menor que 100 m2; se esta potência supre ou não as necessidades de um uso doméstico depende muito [nomeadamente da eficiência energética da família e da casa]
      • os painéis fotovoltaicos precisam de 2 anos para ter retorno energético ["pagar" a energia gasta para os produzir in the first place]
      • é possível ter taxas de retorno de 8 anos para o investimento económico; o preço também está relacionado com a escassez de matéria prima (antes era dos resíduos da indústria microelectrónica…)
      • o sistema fotovoltaico é mais adequado para escritórios porque em casa há mais consumo à noite [quando não está a haver produção]
  • Miguel Veríssimo:
    • 5,36 milhões de fogos para 3,7 milhões de famílias – 18 % residências sazonais e 11 % desocupadas;
    • sector [da construção] aposta na construção nova a um ritmo de 100 000 fogos/ano entre 1999 e 2000;
    • gastos de utilização domésticos [energia ou €€ dessa energia]:
      • 25 % – aquecimento/arrefecimento
      • 25 % – equipamentos e iluminação
      • 50 % – aquecimento de águas [eheheh, o que nós poupamos com o painel solar térmico, pelos vistos!!]

No dia seguinte (8 de Abril, sábado) fomos então visitar a tal casa. Nós tínhamos regressado logo na 6ªf para Lisboa, mas havia um autocarro a vir de Fátima com algumas pessoas. Já chegámos ao ponto de encontro (o Café Central, em Janas, perto das Azenhas do Mar) atrasados, mas tivémos sorte e o autocarro ainda estava mais atrasado! lol Estavam presos no IC19 não sei porquê.

Enquanto estávamos à espera resolvi telefonar para um nº de uma empresa de construção (Spring Construções) que representa em Portugal a empresa Lapponia House, e da qual tinha recebido um mail há mais de uma semana a informar que estavam a construir uma (ou várias, não percebi) casa de madeira na zona de Sintra e que quem estivesse interessado em acompanhar o processo era só ligar e combinar uma visita. Recebi este mail porque lhes dei o meu endereço aquando da Nauticampo deste ano, quando tomei conhecimento da empresa. Na altura fiquei surpreendida porque, nas minhas pesquisas algum tempo antes (sim, interesso-me muito por casas em madeira) não tinha dado com aquela empresa, e as que encontrei, essencialmente no norte da Europa, não tinham representantes nem pareciam vender casas para Portugal.

Bom, numa grande coincidência a casa em construção era mesmo ali ao lado! Aproveitámos e fomos lá enquanto o autocarro não chegava. O senhor (que foi o mesmo com quem falei na feira, embora só depois me apercebi disso, quando o Bruno me disse – um fato muda muito as pessoas, lol) é muito simpático (não tem aqueles tiques nem conversa "de vendedor", que eu detesto) e até nos foi buscar a um sítio, porque estávamos um bocado perdidos já. Mostrou-nos a casa, explicou-nos os detalhes, etc. Não tirei fotos mas como planeio ir lá mais tarde talvez consiga tirar algumas depois. O senhor referiu que mais umas 2 semanas e a casa (excepto a cave/base, de tijolo/betão normal) ficava pronta (uma casa destas monta-se em 5 semanas). Ele disse que têm um contrato com os donos da casa para poderem mostrá-la, mesmo depois de acabada e habitada, até dois anos após a sua conclusão. 😀

Quando voltámos ao café já o pessoal tinha saído. Senti-me estúpida por me ter armado em esperta, mas andámos ali às voltas e démos com o autocarro. O Bruno perguntou ao motorista se ele sabia onde era a casa. Era ali ao lado e então lá fomos nós. Não ouvi grande coisa da "visita guiada", mas ainda pude ver a casa! 😀 Aquilo é um complexo de 3 casas pegadas, no mesmo terreno. Pelo que percebi pelo menos uma delas (a que visitámos) foi construída pelo Arquitecto João Santa Rita para os seus pais.

Aqui ficam as fotos (peço desculpa pela má qualidade, mas foram tiradas com a câmera do telemóvel, que não é "grande espiga".

A casa que visitámos (das 3 era a do meio):

Casas de Janas (I) Casas de Janas (XV)

Aqui vê-se também a casa do lado esquerdo:

Casas de Janas (II) Casas de Janas (XIII)

Os donos desta estavam em casa e conversaram com algumas das pessoas da visita. Tinham montes da gatos! A senhora disse que no princípio instalou aquecimento central mas nunca o ligou e entretanto optou por desactivá-lo.

A casa do lado direito estava fechada (ou pelo menos, resguardada):

Casas de Janas (III)

Vistas do interior – um dos quartos:

Casas de Janas (IV)

A sala:

Casas de Janas (V)

O outro quarto (pormenor: por cima da porta tem vidro, para espalhar a luz natural):

Casas de Janas (VI) Casas de Janas (VII)

Perspectiva da cozinha (ou da porta! :-P), vista da sala:

Casas de Janas (XVI)

Escadas da sala para uma salinha no 1º piso, em mezzanine.

Casas de Janas (XI)

Fizeram dela uma biblioteca, era um sítio bastante agradável para estar sossegado a ler, com o sol a bater na janela, e verde a perder de vista lá fora. 🙂

Casas de Janas (VIII) Casas de Janas (IX) Casas de Janas (X)

Casas de Janas (XII) Casas de Janas (XIV)

Uma cena estúpida típica minha: reconheci nestas Jornadas a Arquitecta Aline Delgado, que veio cá a casa uma vez, no âmbito do projecto ecocasa/ecofamílias. Ao princípio ela não pareceu ter-me reconhecido, mas no dia seguinte, da visita à casa, o Bruno disse-me que parecia que sim. Era para lhe ir falar, ainda por cima tinha assunto. Era para lhe dizer que tinha acabado de visitar mesmo ali ao lado uma casa em madeira e queria perguntar-lhe porque não se abordou este tipo de casas nas conferências. São sempre publicitadas como "ecológicas" e são um nicho de mercado em crescimento. Claro que, atadinha como sou não consegui aproximar-me. Se ela estivesse sozinha…, mas estava sempre gente a conversar com ela. Sou péssima a "impôr-me", e não gosto de interromper pessoas que já estão nas suas próprias conversas. Ai porque haveria de não ter herdado os dotes sociais do meu pai?… 🙁 Se lhe tivesse falado, e dado que ela pertencia à organização, talvez o pessoal até quisesse visitar também a casa e podíamos todos discutir melhor aquilo! Sou mesmo uma naba… 🙁

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