Ciência semanal

Há umas semanas atrás, quando andava à procura de um artigo sobre a “ecopolis” que tinha lido em tempos numa revista na biblioteca da FCUL, resolvi assinar a NewScientist, para ter acesso ao bendito artigo. Na verdade não queria assinar aquilo, só queria mesmo AQUELE artigo. Assim, acabei por gastar dinheiro numa coisa que não queria nem precisava e agora recebo mais uma revista todas as semanas, como se ainda precisasse de mais coisas para ler que me sorva a atenção e o tempo… Enfim.

Mas eu gosto de ler e gosto de ciência, pelo que não está tudo perdido. 😛

Acabei ontem de ler a de 19 de Janeiro, e tem lá umas cenas giras. Como um artigo que diz que, ao contrário do que é defendido pelos médicos, investigadores e autoridades, a actual epidemia de obesidade não se deve ao facto de as pessoas engordarem porque comem demais ou exercitam-se de menos, mas sim porque há uma disfunção hormonal despoletada pelo consumo de certos tipos de alimentos contendo carboidratos – Atkins was on to something. Estes carboidratos refinados estimulam a produção de insulina, que é o regulador primário da armazenagem de gordura. Insulina elevada, toca a criar pneus, insulina baixa, toca a queimá-los. Acho isto muito interessante porque também tenho a tendência de pensar que – salvo situações particulares de saúde ou de genética – a obesidade está relacionada de algum modo com as atitudes e comportamentos das pessoas, relativamente à alimentação e ao estilo de vida… Tenho que me pôr a pau com estes tais de “carboidratos refinados”…

Outro artigo interessante falava da “ilusão do tempo”. Uma hipótese que sugeria algo do género: o tempo é como a temperatura, um estado estatístico de um sistema.

Não é a realidade que tem um curso de tempo, mas o nosso muito aproximado conhecimento da realidade. O tempo é o efeito da nossa ignorância.

Eu até gostava de conseguir descrever melhor isto, mas isso implicava que eu realmente percebesse alguma coisa. 😛

Entre outros artigos que gostei de ler, um sobre o ataque do fundamentalismo religioso, New Ageism e astrologia, à ciência vs. a verdadeira ameaça: os Estados e as Corporations, outro sobre a possível razão de gostarmos de olhar para gente bonita, famosa, poderosa, etc,… O que mais gostei foi mesmo o “Beastly tales“. Ele começa a ssim, e passo a citar, traduzindo:


Segundo os livros de história, o arquipélago da Madeira, a 600 km oeste de África, foi descoberto em 1419 quando marinheiros Portugueses foram arrastados para fora de rota por uma tempestade. Nos tempos romanos, Pliny e Plutarco escreveram acerca de ilhas que podiam ser a Madeira, mas não há registo definido das ilhas, nem sinais nenhuns de pessoas, anteriores à chegada dos Portugueses. Os ratos da ilha da Madeira, no entanto, contam uma história diferente e inesperada.

Os ratos não são nativos da ilha e terão que ter chegado em navios europeus. Geneticamente, são mais parecidos com os ratos de Portugal. No entanto, algum do seu DNA tem fortes similaridades com o de ratos encontrados na Escandinávia – uma pista forte de que barcos Viking encontraram a Madeira muito antes dos Portugueses. “Pode ter sido uma ocupação temporária, ou apenas alguns barcos que atracaram por um curto período de tempo”, diz Jeremy Searle, um biólogo evolucionista na Universidade de York no Reino Unido e um autor do estudo (Heredity, vol 99, p432). “Mas os ratos estão a contar-nos algo que nenhum artefacto até agora nos contou.”

E continua depois, com outros animais, países e enigmas. Gosto muito deste tema, a “arqueologia genética”. A primeira vez que ouvi falar disto foi numa conferência na FCUL, com o Professor António Amorim, do IPATIMUP. Gostei e acabei por convidá-lo a dar a mesma palestra no II Fórum da Química, evento que ajudei a organizar na minha faculdade:

Arqueogenética & Paleogenética: Escavações nos genomas para reconstituição do passado

A genética, particularmente nos últimos anos, com a possibilidade de analisar não só populações existentes como extintas, tem vindo a contribuir poderosamente para a reconstituição da história e da evolução humanas. No entanto, ao contrário de outras ciências, cuja importância se
reduz a fornecer instrumentos auxiliares da história (um bom exemplo é o da física e as datações absolutas), a genética incorpora directamente a dimensão temporal nos seus modelos, pelo que se constitui em espaço teórico alternativo, capaz de, não só resolver questões levantadas pela história, como igualmente fornecer-lhe novos problemas. Exemplificam-se estas situações através de resultados recentes sobre a demografia genética de populações portuguesas e das suas ex-colónias bem como sobre a reconstrução de moléculas de espécies extintas.

O tema fascinou-me mesmo. Até cheguei a comprar o livro dele “A Espécie das Origens”, mas nunca cheguei a ter tempo de o ler (para variar). 😛

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