No Domingo fui de patinete buscar almoço para o pessoal, frango assado, a uma churrascaria a cerca de 1 km, talvez, em plano, praticamente. [Comecei por usar duas patinetes em algumas deslocações para me familiarizar melhor com este novo conceito, e conhecer melhor os modelos, ossos do ofício. 🙂 É engraçado porque não estava à espera de achar nenhuma piada especial a isto, mas virei fã, é realmente muito prático, e parece ser mesmo de baixo impacto, o que para alguém como eu, frequentemente com problemas de articulações, músculos e tendões, são boas notícias.]
Tive que aguardar um bocado, e entretanto deixei de esperar sozinha, foram chegando outras pessoas para levantar as suas encomendas também. Duas delas chegaram a pé, outras duas de carro, que estacionaram em frente à porta. A última, um senhor com uns 65 anos, por aí, gabou-me as rodas, mas depois rematou com um “só falta aí um motorzinho“. É um comentário típico. Repliquei que não, que não é preciso, que gosto dela assim, que se faz bem, que me faz bem.
Costumo dizer, e é verdade, que não ando de bicicleta com a frequência que ando, no contexto que ando, “pelo ambiente”. Isto apesar de ser uma pessoa com elevada “consciência ambiental” e comprometida com a mesma na medida do possível (e prático). Ando de bicicleta porque gosto, porque desfruto mais da viagem assim, porque me dá uma oportunidade de incorporar uma actividade física na minha rotina diária em vez de ter que tirar tempo (que não consigo, de qualquer modo) especificamente para actividades onde me exercitar para exercitar. Ando de bicicleta porque às vezes é mais rápido, prático e menos stressante que ir de carro. E é um grande bónus poder libertar o carro para outros usarem (carsharing familiar!), e poupar dinheiro para coisas mais interessantes do que manter o carro a andar (como viagens, mais bicicletas, livros, etc). O “ambiente” é um factor importante, e também está lá nas minhas motivações, mas sinto que se não estivessem lá as outras o ambiente por si só não me faria deixar o carro em casa e ir de bicicleta.
Contudo, há pessoas para quem esta questão da responsabilidade ambiental (e, daí, social) da mobilidade tocou na pele. É o caso do autor de um blog que descobri hoje. A poluição atmosférica e sonora causada pelo excesso de automóveis em circulação afecta a saúde de muita gente, e causa muitas mortes. Mas poucas pessoas têm noção disto, só lhes ocorre a sinistralidade rodoviária “imediata”. Usar um veículo motorizado desproporcionalmente grande/pesado/poluidor face ao que nele transportamos e face ao contexto em que o utilizamos acaba por ser um pecado social, ambiental, económico de que tenho cada vez mais consciência. Não sou anti-carro, os carros são úteis e cómodos em muitas situações, e precisamos deles. Mas precisamos de diversificar as opções disponíveis no mercado (carros – e motas – mais pequenos e leves, carpooling, carsharing,…), e precisamos de políticas que restrinjam o seu uso fora das situações em que ele é realmente a única ferramenta possível, disponível ou prática para determinada função de transporte. Paralelamente há que investir, promover e subsidiar as alternativas pelo menos na mesma medida em que os veículos motorizados têm sido alvo de investimento, promoção e subsídios: os transportes colectivos públicos, as bicicletas, o andar a pé. Mas não se iludam, a promoção não vai lá sem a restrição.
Não tenho grande perfil – nem paciência – para evangelizar as pessoas com o meu latim nestas situações do dia-a-dia (na churrascaria, na farmácia, na mercearia, no comboio,…). Limito-me a sorrir, a responder, e a simplesmente andar por aí, na boa. É a melhor maneira de promover outros estilos de vida, tendo-os. E o meu nem é nada de radical. Nem poderia ser, dado o sítio onde vivo e o tipo de deslocações que faço. Quem me dera viver algures onde não ter carro sequer pudesse realmente ser uma opção prática…
Gostei do texto, conciso, claro e directo. Quanto ao “evangelizar”, incitando modos alternativos de mobilidade, não precisa de falar, basta dar o exemplo, e isso consegue de modo real através de todas essas acções, sendo esse o mais directo estímulo.