Aqui estou eu, na Biblioteca de Química da FCUL, a tentar estudar para aquele malfadado exame de Química-Física 2. Sinto-me impotente. Sinto-me burra, lenta. Andei a queimar os meus neurónios nestes últimos 7 anos da minha vida à custa de muito marranço, demasiado trabalho e pouco lazer, muita pressão e imenso stress psicológico e emocional. Sabiam que o stress mata-nos o sistema imunitário e faz-nos buracos no cérebro? O stress é a pior doença possível, porque não se vê mas mata-nos devagarinho, e eu já nasci com ela. Pode parecer brincadeira ou exagero, mas eu sinto real e objectivamente cada vez mais a degradação das minhas capacidades intelectuais. A memória, a agilidade mental, a concentração e a perseverança, que me permitiram ser sempre a melhor aluna até ao fim do Secundário, sem nenhum esforço especial, e que me permitiam gostar de aprender coisas sozinha, têm vindo a sofrer uma downfall acentuada. E não há nada que eu possa fazer. Muitas pessoas acreditam que nós não somos o nosso corpo, que a nossa identidade, o nosso "eu" é algo imutável e independente da "matéria corpórea". Eu sei que eu sou o meu corpo. O que eu sou está no meu cérebro e é dele um produto. Por isso, constatar que a minha personalidade está a mudar devido a alterações nas minhas capacidades intelectuais, é algo assustador… Pensei que isto só fosse acontecer daqui a mais umas décadas… 🙁
Será que isto é normal e toda a gente sente o mesmo ou será que é só comigo? E se for sinal de algum problema, será só consequência daquele maldito "esgotamento em cAMP" que tive há uns 6-7 anos? Às vezes penso que devo ter alguma doença neurodegenerativa qualquer. Ler muito também dá nisto, vejo coincidências nos sintomas de uma data de doenças. 😛
Este sábado fui outra vez à terra do meu pai, o meu avô finalmente saiu do hospital onde esteve umas 3 semanas devido a uma pancreatite. No entanto o seu estado é frágil e de dependência. Ter visto o meu avô num estado tão debilitado também me assustou bastante. Um homem "rijo", que entregava e carregava sacas de ração de 50 kg há meia dúzia de anos, vê-lo agora de repente sem conseguir andar e a precisar de ajuda pra tudo é um bocado chocante… O meu avô tem Parkinson, diagnosticado há alguns anos. E pelos vistos o pai dele também teve a doença… E tem má circulação, tal como o meu pai e tal como eu. As probabilidades genéticas não jogam a meu favor…
Acho que é por esta inevitabilidade da vida que as pessoas têm filhos. Uma família grande tem capacidade de gerir melhor as suas riquezas e as suas fraquezas. Se eu não tiver filhos, quem cuidará de mim quando eu precisar? Mas depois as pessoas dizem que quem não quer ter filhos é por egoísmo. Mas o impulso de ter filhos não será em si mesmo egoísmo maior? "Ter filhos para ter alguém para cuidar de mim" não me parece propriamente um propósito altruísta. Muitas pessoas não querem ter filhos por motivos bem mais abnegados: porque não acham que seriam bons pais, ou não querem trazer crianças a um mundo como este, ou não acham que conseguiriam dar às crianças aquilo que acham que elas merecem. Ou porque estão muito envolvidos no seu trabalho, que consideram importante (em voluntariado, ou em activismo político, social, ambiental, etc), e terem filhos iria afastá-los desses projectos, o que seria uma perda para a comunidade. Quem tem filhos tem mais telhados de vidro e está sujeito a outro tipo de pressões e exigências pessoais.
Bolas, a vida é uma cena mesmo lixada.