Oportunidade perdida – possibilidade de futuro

A grande oportunidade de tornar uma zona esquecida (freguesia de Porto Salvo, parte Oeste da freguesia de Barcarena, freguesia de São Marcos) de Oeiras num local melhor para viver perdeu-se.
Há muitos espaços de escritórios de grandes empresas, até um campo de golfe, mas aquilo que alguém com uma visão acertada de sustentabilidade e qualidade de vida podia ter criado, infelizmente não existe.

A construção da ligação entre a A5 e o cacém/IC19 foi uma oportunidade enorme para ligar adequadamente a freguesia de Barcarena com a freguesia de Porto Salvo e de criar na zona de São Marcos a merecida zona de convivência e lazer que a especulação imobiliária esqueceu.

Em vez de juntar estas zonas e dar-lhes uma nova vida, construiu-se uma muralha.

Será que é pelo facto dos responsáveis pelas decisões de urbanismo do concelho não viverem nestas zonas? Será pelo facto de apenas se deslocarem pelo concelho de carro e nunca pararem em lado nenhum? Esta zona “não tem nada para ver”. Pois, talvez uma conjugação de factores, pois recuso-me a aceitar que estas decisões sejam feitas com conhecimento de causa e sem mais do que olhar para o mapa aéreo do concelho.

Esta ligação rodoviária corta sem uma única ligação pedestre as populações de ambos os lados, desde o Cacém até Oeiras. A ligação mais recente, entre a saída para Porto Salvo da A5 e o Cacém foi desenhada com uma visão no carro, para o carro e sem contemplar absolutamente mais nada. “Construam as estradas e os carros virão”, se não é ditado, devia ser, pode verificar-se que apesar de tão recente já está engarrafada nas horas de maior tráfego.

Divisão total sem nenhuma ligação pedestre.
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A ligação entre Porto Salvo, Vila Fria, Leião e Leceia é feita por duas estradas sem passagem para peões
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Não é possível ir a pé de Leceia para o Tagus Parque

Não é possível ir a pé de Leceia para os escritórios no Tagus Parque, ou para o IST
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Quem trabalhe nos escritórios do Tagus Parque tem que ir de carro se quiser ir para o campo de golfe

Quem trabalhe nos escritórios do Tagus Parque tem que ir de carro se quiser ir jogar para o campo de golfe
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Leião está ligado a Leceia por uma estrada sem berma nem passeio

Leião está ligado a Leceia por uma estrada sem berma nem passeio
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Estrada antiga cortada pelo acesso

Estrada de gravilha antiga onde era possível circular a pé, cortada pelo acesso
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Porto Salvo está ligado a Vila Fria por uma estrada sem ligação pedestre

Porto Salvo está ligado a Vila Fria por uma estrada sem ligação pedestre
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Não existe forma de ir de Porto Salvo para Vila Fria ou daqui para Paço D'Arcos a pé

Não existe forma de ir de Porto Salvo para Vila Fria ou daqui para Paço D’Arcos a pé

Imagine-se que em vez de fazer vários centros comerciais se construia uma via de baixo tráfego (zona 30) com jardim a todo o comprimento (a sério: com montes de árvores e arbustos, bancos para os descansar e almoçar, etc, sem tapetes de relva porque já existe um campo de golfe; nem mármores, porque já temos a Pedreira dos Poetas) para Leceia, Leião, Porto Salvo, Vila Fria, São Marcos. Uma avenida para as pessoas, com comércio local, onde os trabalhadores dos centros de escritórios podiam ir passear, almoçar, comprar mercearias ao fim do dia. Imagine-se que nessa via se fazia uma via de eléctrico para ligar a linha de comboio de Cascais à linha de comboio de Sintra? Um espaço verde, sossegado. Um espaço para as pessoas, sustentável? As crianças da escola podiam ir a pé para casa, apanhar o eléctrico, de bicicleta, depois de passar na padaria a comprar o pão para o lanche e uma alface para o jantar…

Quando o paradigma mudar, isto deixará de ser um sonho. 🙂

O contraste em Oeiras publicado pela imprensa local

Não é novidade para ninguém que os transportes públicos em Oeiras, fruto de serem geridos por entidades privadas que não prestam contas a ninguém, são sofríveis e estão a degradar-se.
Como as pessoas enchem a paciência com a frustração de cada dia no seu commuting, esta mais cedo ou mais tarde acaba por transbordar. A maioria desabafará em alta voz no autocarro ou no comboio, outros o farão com a família, outros consigo próprio. Gostei de ver que cerca de 100 destas pessoas não estiveram com meias medidas e fizeram aquilo que é necessário, ou seja, manifestarem-se junto da Vimeca (já que a CMO ou não faz nada, ou não tem mão nem dizer nas políticas desta empresa…):

vimeca.jpg

Quanto a mim, no dia em que a Vimeca se recusasse a melhorar as condições das carreiras ou a criar novas ligações, era no dia em que abria um concurso público para outro operador preencher as lacunas. Se não há controlo autárquico destes problemas e é a lei do mercado que define as políticas então se calhar o problema mais uma vez é o monopólio da Vimeca…

Noutra notícia caricata, fala-se de uma rua em Carnaxide a necessitar de requalificação. Ora um dos problemas apontados pelos residentes é a falta de espaço para estacionar. Quem conhece minimamente aquela zona sabe a selvajaria que é o estacionamento (demonstrado até na fotografia ilustrativa), a minha dúvida ficou em saber onde é que vão arranjar mais espaço. Cá para mim aqueles “espaços verdes” da foto (e outros na zona) estão mal aproveitados (alguns não, já têm carros). O melhor será cilindrar tudo, alcatroar e puff mais espaço de estacionamento. Os putos já nem podem vir para a rua jogar à bola que correm o risco de ser atropelados (por isso é que os pais entopem os portões das escolas a deixar as crianças), e o espaço para brincar está todo ocupado por carros. Ora o que vale é que a natalidade também é baixa, senão todas as famílias com 7 ou 8 elementos, cada um com o seu carro, vinham exigir o espaço de estacionamento a que supostamente têm direito, e ai o problema ainda seria maior. A ideia de que o espaço público (ou seja, de todos, ao contrário de quem acha que é de ninguém) dá direito a ser ocupado por propriedade privada, sem que se pague o seu real valor, dá aso a que se ache que se tem o direito de roubar este espaço ao resto das pessoas, enfim:

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